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Oratura: pela valorização da oralidade - Fabiano Moraes


O termo oratura, proposto pelo linguista ugandês Pio Zirimu nas universidades de Makerere em Uganda, na década de 60, foi amplamente utilizado e propagado nas obras de Walter Ong (orature). Oratura, ou oralitura, surge como alternativa à expressão literatura oral por apresentar-se mais apropriada para o fim a que se propõe: designar um conjunto de formas verbais orais, artísticas ou não. Ao contrário, literatura oral traz em sua composição uma palavra central originariamente relacionada à escrita conjugada a outra que, em nível secundário, aponta para a oralidade.
 

Câmara Cascudo, ao referir-se ao termo literatura oral em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, afirma que o termo, criado por Paul Sébillot, em 1881, em sua obra Littérature orale de de la Haute Bretagne, reúne gêneros da oralidade, tais como: contos, lendas, mitos, adivinhas, provérbios, parlendas, frases-feitas, cantos, orações, transmitidos e conservados oralmente, mesmo que posteriormente registrados e conservados através da escrita. “Sua característica é a persistência pela oralidade” (CASCUDO, 1984, p. 23).

No entanto, alguns autores têm apontado que este e outros termos relacionados à oralidade sugerem uma preponderância ou supremacia da escrita em detrimento da oralidade. Respaldando os argumentos em defesa da utilização do termo oratura, encontramos na obra Linguagem, escrita e poder, de Maurizzio Gnerre, questionamentos e críticas ao grafocentrismo exacerbado do ocidente. Exemplificando o preconceito existente com relação à oralidade - através do qual esta é apontada como ausência da escrita, embora originariamente seja anterior a esta última – o autor traz à tona o termo cultura ágrafa, por exemplo, utilizado para que se refira a uma cultura oral ou predominantemente oral. A palavra ágrafa parece supor que o fato desta cultura não possuir a escrita seja algo alarmante, fora do que se tornou padrão. Outro termo apresentado por Gnerre (1998) é a palavra analfabeto, utilizada em uma das suas acepções fundamentais para designar o indivíduo que não domina a escrita e a leitura. Os componentes morfológicos da palavra nos remetem ao fato de o indivíduo não dominar o alfabeto, a escrita, supondo mais uma vez que o padrão de normalidade é ditado a partir do grafocentrismo. O termo oratura, por sua vez, encerra em si mesmo sua abrangência no âmbito central da oralidade.


Texto: Fabiano Moraes

www.fabianomoraes.com.br

Referências bibliográficas: 
CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1984.
______. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998.